Histórias do Design no Brasil II

As histórias do design no Brasil contidas nesta coletâ­nea trazem os mais variados enfoques sobre a formação e a consolidação desse campo profissional durante o século XX, a partir da visão de pesquisadores com formações dis­tintas engajados no registro da nossa história. O proces­so de desenvolvimento industrial ocorrido no país nesse período desencadeou mudanças no consumo, no mercado e nas instituições de ensino que preparavam seus alunos para enfrentarem as mudanças da economia brasileira. As empresas e os profissionais se depararam com a necessi­dade de adaptação à nova realidade, que não raro os obri­garam a optar entre a transição para novas tecnologias e a fidelidade às formas de trabalho já estabelecidas.

A pluralidade de temas contidos nesta obra é reflexo não só das grandes mudanças ocorridas no período, mas também da amplitude do campo profissional e das diver­sidades existentes dentro do território nacional. Como exemplos vivos desta pluralidade, compartilham o espaço da capa a fonte Ruben redesenhada por Fernanda Martins a partir de uma fonte desenhada manualmente por seu pai, o designer Ruben Martins (1929-1968) e um esboço do sofá Hauner feito por Sérgio Rodrigues, retratando uma das etapas de desenvolvimento do projeto de mobiliário. Ambos os elementos da capa estão relacionados a textos que compõem esta coletânea: o artigo “Tipografia Brasilis” (capítulo 6), autoria de Luciano Cardinali, dá mais detalhes sobre a tipografia brasileira e sobre os trabalhos de Fer­nanda Martins, e o artigo “Móveis Artesanal” (capítulo 7), de Mina Hugerth, traz mais informações sobre a produção de móveis com linguagem moderna feita por esta empresa que contou com a participação de Sérgio Rodrigues no de­senvolvimento de seus projetos.

O design gráfico e o design de produto brasileiros pre­sentes na capa representam as grandes áreas nas quais es­tão agrupados os textos desta coletânea, cujos temas são vinculados às pesquisas já concluídas ou em andamen­to – desenvolvidos por seus autores, alunos da disciplina “História Social do Design no Brasil” do Programa de Pós­-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo na turma de 2012.

Os textos que gravitam em torno do design gráfico ver­sam sobre os mais distintos aspectos do campo. Luciano Cardinali apresenta um estudo sobre a tipografia brasileira e as causas do aumento de produção a partir dos anos 1990, focando suas análises em três mostras do evento Tipografia Brasilis (capítulo 6). Isabella Ribeiro Aragão apura os pro­cessos de composição de textos no Brasil entre as décadas de 1950 e 1970 através da análise de anúncios e textos dispo­níveis em periódicos especializados (capítulo 5), época que pode ser considerada como um dos marcos do crescimento da indústria gráfica brasileira. Ainda envolvendo processos gráficos, a autora Elizabeth Romani relata os diversos meios de produção de livros infantis acessíveis existentes na cidade de São Paulo, por meio de manufatura artesanal ou produ­ção industrial (capítulo 3). Sílvia Nastari analisa a atuação de Tomás Santa Rosa Jr. na editora José Olympio e a unidade visual dos projetos desenvolvidos (capítulo 9). Dora Souza Dias descreve a trajetória de Ernest Mange, professor que participou ativamente na formação da sequência de disci­plinas de Comunicação Visual da Faculdade de Arquitetu­ra e Urbanismo da USP (capítulo 2). Finalizando os textos referentes ao design gráfico, Roberto Temin apresenta um interessante artigo sobre a introdução do computador como ferramenta de trabalho nos escritórios de design gráfico em São Paulo e a revolução provocada por essa mudança.

O design de produto no Brasil é retratado nesta obra sob diferentes aspectos: a produção de calçados, óculos e móveis brasileiros. Antonio Franco traça o panorama do desenvolvimento tecnológico na indústria de móveis po­pulares no Brasil escolhendo, como estudo de caso, a in­dústria de móveis Bergamo, modelo de destaque dessa evolução (capítulo 1). Mina Hugerth também faz um relato sobre a produção de móveis modernos brasileiros tendo como foco a empresa Móveis Artesanal que teve significa­tiva atuação nesta produção nos anos 1950, além de espa­ços comerciais inovadores e de um sistema de fabricação com produção em série (capítulo 7). Verônica Thomazini Passos relata a trajetória da empresa Calçados Pelegrini, a mais antiga empresa de fabricação de calçados ainda em funcionamento no Brasil, que abre suas portas em 1902 tendo como produto calçados de alta qualidade (capítulo 10). Por fim, o artigo de Iana Garófalo Chaves apresenta a trajetória e a metodologia de trabalho de Miguel Giannini, importante personagem na história do desenvolvimento de projetos de óculos no Brasil (capítulo 4).

Os diversos temas abordados tratam de aspectos do design brasileiro, representando parte da grande multipli­cidade existente nesse campo. Essa multiplicidade existe não só nos temas, mas também nas origens de cada um dos autores que contribuíram para a construção desta obra. Na parte posterior do livro encontra-se descrita a trajetória de cada um dos autores e seus respectivos dados de contato, para que quaisquer dúvidas possam ser esclarecidas e co­mentários, compartilhados.

Esperamos que a leitura de cada um dos textos aqui reunidos proporcione ao leitor uma imersão no passado e inspiração para as transformações que estão por vir.